Pensem comigo: quem é que mora longe dos pais e sente aquela imensa saudade de doer? Cada vez menos pessoas! Simplesmente pelo fato de que, atualmente, o MSN, o orkut, o skype, o facebook e o e-mail diminuíram as distâncias, construindo pontes virtuais entre as pessoas.
Pontes virtuais! Trocou-se o real pelo virtual, e a saudade real foi substituída pela pseudo-presença virtual.
E então? O problema é que as pessoas são completamente diferentes pessoalmente. As experiências são muito mais valiosas e intensas no téte-à-téte... Sem contar que, no mundo virtual, você conversa com várias pessoas ao mesmo tempo, deixando de se entregar totalmente a cada uma delas, o que mitiga os relacionamentos.
Quanta saudade eu tenho do tempo em que, para falar com a paquerinha (isso no início dos anos 90), era preciso ligar na casa dela, passar pelo filtro do pai e do irmão mais velho ("oi, a mariazinha tá aí?"), sentir aquele tremendo frio na barriga e titubear por vezes antes de discar o número dela.
Hoje a situação facilitou demais. Antes de conhecer a pessoa você entra na rede social dela, visualiza todas as fotos, as comunidades para conhecer os seus gostos e desgostos, prepara-se com todo esse conteúdo e "liga pra casa dela"? NÃO! Você a adiciona no MSN, coloca aquela foto em que você está tão lindão quanto a sua mãe te acha, e dá uma de bom moço, já sabendo de quase tudo sobre ela.
Se você tiver um pouco de paciência e não for um mala-sem-alça, você conquista a pessoa via MSN, sem sequer tê-la visto, sentido o seu cheiro, olhado nos seus olhos, enviado uma rosa, sentido um medinho de escutar a voz do pai ou do irmão, e, como em um passe de mágica, "eu te amo" (essa questão da banalização do "eu te amo" vou tratar logo em um outro post). Chato né?Cadê o romantismo das surpresas, o lidar com as diferenças, o olhar transformador e a mão tremendo?
Muito além disso, vamos imaginar que você conheça alguém via "normal". Apaixone-se por essa pessoa, comece a sair com ela e acabe namorando. O seu namoro vai ser afetado diretamente por toda essa parafernália digital. As cartinhas de antigamente (tem muita gente que tem uma caixinha e as guarda junto com outros pertences) perderam o sentido! Hoje são "depoimentos ocultos", "scraps", e, muuuuiiitoooo dificilmente, e-mails curtíssimos e sem desenhos, que não são guardados em caixas, mas sim em algum lugar virtual o qual ninguém sabe onde fica.
Meu caro, o seu relacionamento (seja familiar, amoroso, amizade) vai sobreviver lastreado por um fio muito estreito, tão fino quanto a linha que liga o seu notebook à rede sem-fio, ou o seu celular do seu receptor. Rodeado de SMS, depoimentos, pequenos e-mails, o seu sentimento será, tal qual os seus adereços, cada vez mais virtual e menos real. E isso é muito perigoso, ao passo que distancia as pessoas com a falsa impressão de que elas são e estão mais próximas.
O risco que se corre é o de viver virtualmente, esquecendo que o virtual é somente mais um dos meios para se facilitar a vida real, não para substituí-la! O virtual, por si só, é vazio!
Repito: vivemos em um mundo em que a distância é um bem que não mais existe. E completo: ela foi substituída por uma falsa presença que nada mais faz do que abortar os reais sentimentos antes que eles tenham chance de nascer.
Seja real! E abaixo o vazio!
PS: esqueça daquele exercício matinal de enviar e-mails de piadinhas, educativos ou de alertas para todos os seus contados - esse exercício é péssimo e só afasta as pessoas. Tente ligar para um ou dois amigos durante o dia. Vai fazer muito mais efeito!